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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Nesta vida, em que sou meu sono


NESTA vida, em que sou meu sono,
Não sou meu dono,
Quem sou é quem me ignoro e vive
Através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que eu outrora tive,
Numa só vida.
Mar sou; baixo marulho ao alto rujo,
Mas minha cor vem do meu alto céu,
E só me encontro quando de mim fujo.
Quem quando eu era infante me guiava
Senão a vera alma que em mim estava?
Atada pelos braços corporais,
Não podia ser mais.
Mas, certo, um gesto, olhar ou esquecimento
Também, aos olhos de quem bem olhasse
A Presença Real sob disfarce
Da minha alma presente sem intento.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

a la insolente muerte

EL PUENTE

http://ronaldorossi.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/02/pessego-300x225.jpg

Para cruzalo o para no cruzarlo

ahí está el puente

en la otra orilla alguien me espera

con un durazno y un país

traigo conmigo ofrendas desusadas

entre ellas un paraguas de ombligo de madera

un libro con los pánicos en blanco

y una guitarra que no sé abrazar

vengo con las mejillas del insomnio

los pañuelos del mar y de las paces

Ias tímidas pancartas del dolor

las liturgias del beso y de la sombra

nunca he traído tantas cosas

nunca he venido con tan poco

ahí esta el puente

para cruzarlo o para no cruzarlo

yolIo voy a cruzar

sin prevenciones

en la otra orilla alguien me espera

con un durazno y un país

(De Preguntas al azar – 1984-1985)

SOY MI HUESPED

Soy mi huésped nocturno

en dosis mínimas

y uso la noche

para despojarme

de la modestia

y otras vanidades

aspiro a ser tratado

sin los prejuicios

de la bienvenida

y con las cortesías

del silencio

no colecciono padeceres

ni los sarcasmos

que hacen mella

soy tan solo

mi huésped

y traigo una paloma

que no es prenda de paz

sino paloma

como huésped

estrictamente mío

en la pizarra de la noche

trazo una línea

blanca

(De La Vida ese Parentesis)


POR QUE CANTAMOS

Si cada hora viene con su muerte

si el tiempo es una cueva de ladrones

los aires ya no son los buenos aires

la vida es nada más que un blanco móvil

usted preguntará por qué cantamos

si nuestros bravos quedan sin abrazo

la patria se nos muere de tristeza

y el corazón del hombre se hace añicos

antes aún que explote la vergüenza

usted preguntará por qué cantamos

si estamos lejos como un horizonte

si allá quedaron árbores y cielo

si cada noche es siempre alguna ausencia

y cada despertar un desencuentro

usted preguntará por qué cantamos

cantamos porque el río está sonando

y cuando suena el río / suena el río

cantamos porque el cruel no tiene nombre

y en cambio tiene nombre su destino

(De Retratos y Canciones)

EN PIE

Sigo en pie

por latido

por costumbre

por no abrir la ventana decisiva

y mirar de una vez a la insolente

muerte

esa mansa

dueña de la espera

sigo en pie

por pereza en los adioses

cierre y demolición

de la memória

no es un mérito

otros desafían

la claridad

el caos

o la tortura

seguir en pie

quiere decir coraje

o no tener

donde caerse

muerto

(De A Ras de Sueño, 1967)

Mario Bennedeti

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Canção de Amor da Jovem Louca


Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro

Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.)

Sylvia Plath (tradução de Maria Luíza Nogueira)


domingo, 2 de agosto de 2009

Spleen


São tantas lembranças, que sinto ter mil anos.

Gavetas entupidas de notas e planos,
promissórias, poemas, cobranças, canções,
e mechas de cabelo entre intimações,
guardam menos segredos que o meu triste cérebro.
É uma pirâmide, um gigantesco féretro
mais pesado de mortos que a vala comum.
-- Sou cemitério sem lua, cafarnaum
onde rastejam vermes longos e gulosos
que devoram sempre meus mortos mais saudosos.
Sou um velho boudoir com mofados buquês,
roupas fora de moda sobre os somiês,
onde só as ninfas nos pastéis desbotados
aspiram o odor dos frascos destapados.

Não há nada mais longo que os trôpegos dias
debaixo do inverno das neves mais frias,
quando o tédio, fruto da morna indiferença,
ganha imortalidade e onipresença.
-- Agora não és mais, ó ser superior,
que um granito cercado de um vago pavor,
dormindo no fundo do deserto à socapa,
velha esfinge esquecida, perdida no mapa,
mas que não perde o brio e ainda faz farol,
cantando seus versos à luz do pôr-do-sol.


Charles Baudelaire Tradução-Jorge Pontual


segunda-feira, 25 de maio de 2009

SOY MI HUESPED

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Soy mi huésped nocturno

en dosis mínimas

y uso la noche

para despojarme

de la modestia

y otras vanidades

aspiro a ser tratado

sin los prejuicios

de la bienvenida

y con las cortesías

del silencio

no colecciono padeceres

ni los sarcasmos

que hacen mella

soy tan solo

mi huésped

y traigo una paloma

que no es prenda de paz

sino paloma

como huésped

estrictamente mío

en la pizarra de la noche

trazo una línea

blanca

(De La Vida ese Parentesis)


domingo, 24 de maio de 2009

A criança que fui




A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa



Mario Benedetti

MARIO BENEDETTI

(1920-2009)

haikais


si en el crepúsculo

el sol era memoria

ya no me acuerdo


las religiones

no salvan / son apenas

un contratiempo


lo peor del eco

es que dice las mismas

barbaridades


hay pocas cosas

tan ensordecedoras

como el silencio


durante el sueño

los amantes son fieles

como animales


pasan las nubes

y el cielo queda limpio

de toda culpa


las plantas oyen

si uno las lisonjea

se hinchan de verde


en todo idilio

una boca hay que besa

y otra es besada

Todos los 224 haikais de Mário Benedetti pueden ser leídos en su libro RINCÓN DE HAIKUS. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2000. 236 p. ISBN: 950-07-1835-9


segunda-feira, 20 de abril de 2009


Aos que vão nascer
[DE Bertolt Brecht]


1
É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice.
Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade.
Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda A terrível notícia.
Que tempos são esses, em que Falar de árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?

Aquele que atravessa a rua tranquilo

Não está mais ao alcance de seus amigos

Necessitados? Sim, ainda ganho meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso.
Nada do que faço
Me dá direito a comer a fartar
Por acaso fui poupado
(Se minha sorte acaba, estou perdido!)

As pessoas me dizem:
Coma e beba! Alegre-se porque tem!

Mas como posso beber e comer, se Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d'água falta ao que tem sede?
E no entanto eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser sábio
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve Levar sem medo
E passar sem violência

Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

2

À cidade cheguei em tempo de desordem

Quando reinava a fome. Entre os homens cheguei em tempo de tumulto E me revoltei junto com eles. Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado. A comida comi entre as batalhas Deitei-me para dormir entre os assassinos
Do amor cuidei displicente
E impaciente contemplei a natureza.
Assim passou o tempo Que sobre a terra me foi dado.
As ruas de meu tempo conduziam ao pântano.

A linguagem denunciou-me ao carrasco.
Eu pouco podia fazer. Mas os que estavam por cima

Estariam melhor sem mim, disso tive esperança.
Assim passou o tempo
Que sobre a terra me foi dado.
As forças eram mínimas.
A meta
Estava bem distante.
Era bem visível, embora para mim
Quase inatingível.
Assim passou o tempo
Que nesta terra me foi dado.

3
Vocês, que emergirão do dilúvio

Em que afundamos Pensem
Quando falarem de nossas fraquezas
Também nos tempos negros

De que escaparam.

Andávamos então, trocando de países como de sandálias
Através das lutas de classes, desesperados
Quando havia só injustiça e nenhuma revolta.
Entretanto sabemos:

Também o ódio a baixeza
Deforma as feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca.
Ah, e nós
que queríamos preparar o chão para o amor
Não pudemos nós mesmos ser amigos.
Mas vocês, quando chegar o momento

Do homem ser parceiro do homem
Pensem em nós

Com simpatia.


domingo, 19 de abril de 2009

Calando-me


Sou um mestre na arte
De falar em silêncio
Toda a minha vida falei
Calando-me
e vivi em Mim mesmo tragédias inteiras
sem pronunciar
Uma palavra.


Fiódor Dostoiévski

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Caimos todos nós


http://2.bp.blogspot.com/_DLUQHBn3egc/RrtyBGsUbQI/AAAAAAAAAA0/5dt5fVELwyw/s400/outono.jpg

As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.

E a terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.

Caimos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.

E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.


Rainer Maria Rilke

sexta-feira, 27 de março de 2009


Envelhecimento

Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo.
É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.


Frida Kahlo

segunda-feira, 23 de março de 2009

E de repente é noite

Todos estão sós no coração da terra,
Atravessados por um raio de sol:
E de repente é noite
Salvatore Quasimodo


(trad. de Jorge de Sena – in Poesia do s.XX-Inova,Porto,1978)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

MIGUEL TORGA


"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca se entenderam. (...) A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. (...) Vivo a natureza integrado nela, de tal modo que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno."

MIGUEL TORGA Diário II - 1943

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sou lunar


Eu não penso, não me queixo,
nem discuto, nem durmo.
Não desejo nem sol,
nem lua, nem mar, nem barco.

Não penso no calor que faz entre estas paredes,
nem como o jardim está verde;
e esse presente, que tanto desejei,
já não o espero.

Não me anima nem a manhã,
nem o elétrico o seu tilintar alegre,
vivo sem ver o dia,
esquecendo-me, do tempo,o ano e a hora.

Sobre uma corda estragada,
eu danço – pobre dançarina.
Sou a sombra de uma sombra.
Sou lunar de duas sombrias luas.


Marina Tsvétaïeva -in E cantou como canta a tempestade
tradução: António Mega Ferreira -ed.Assírio e Alvim,2007


sábado, 21 de fevereiro de 2009

Todos estão sós


Todos estão sós no coração da terra,
Atravessados por um raio de sol:
E de repente é noite.


Salvatore Quasimodo


(trad. de Jorge de Sena – in Poesia do s.XX-Inova,Porto,1978)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


Insônia


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg11Ya7iQ27LFF3F_iFMo75SnNl0EtG032lnfV3OlVu6Fl6kHRey4u9Fy7Z2a5J46yvQDZwnRGzpjmKWMRHObTQgw7306gpaoPfrFIwTHOyojzb_velp25EMEQAWaz1C9AMF6fgizohkSe/s400/insonia.JPG




De vez em quando a insônia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.No segundo caso, o homem que não dorme pensa: «o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração».
Carlos de Oliveira

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Meu lado Gris (3)

IMEMORIAL
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHALfGpZY-ccRnWrhvdzCl7VmnOOpyZAtS5Hw4txI5syhRNIFuHb2HFSGaww8jgDqEm_ZxaYxa9U-oDmd00dQUdPdYjPmpru-a35q9VITTDqlO_R7HzhrsfeFl7Xoi2CED_mxVxtFvM9Ho/s400/Ang%C3%BAstia+1.jpg

Não fui quem sou, quando nasci.
Nem sou quem sou, quando amo.
Nem quando sofro.
Porque coexisto.
Porque a angústia

é uma herança.

Só me aproximo de mim mesmo
quando fujo,
atravesso a fronteira,
ou me defendo, ou fico triste.

Ou quando sinto a rosa
secreta e quente da vergonha
subir-me à face.

O mar me bate à porta,
como um grito da origem.
Mas como descobrir
a onda imemorial que me trouxe?

Cassiano Ricardo
in Um dia após o outro,1947


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Meu lado Gris (2)

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjssy7ddu32XDa4qE25j2j1BWHl697U8IrW1UP9AIVbU4Yc3xE2XN252_e1_YaNM5jQZGOCNCAuc0okCwHF52mWQCLMWh3Vfz0EfkcjJgXdUGM43rlrj-dnpBr1uA-cK30GtMupsCBuNDOL/s400/NEBLINA.jpg

É estranho andar na neblina!

A vida é solidão.
Nenhum de nós conhece os outros,
Todos estamos sozinhos.

Hermman Hesse

 
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