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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crepusculo


Teus olhos, borboletas de ouro, ardentes
Borboletas de sol, de asas magoadas,
Pousam nos meus, suaves e cansadas
Como em dois lírios roxos e dolentes…


E os lírios fecham… Meu amor não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E a minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes…


O silêncio abre as mãos… entorna rosas…
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando…


E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha.
Um coração ardente palpitando…


Florbela Espanca - A mensageira das violetas




segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Escreve-me ...




Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!


"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?

Olha, manda então...brandas...serenas...
,
Cinco pétalas roxas de saudade...

Florbela Espanca

sábado, 26 de setembro de 2009

CANTIGAS LEVA-AS O VENTO...




A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade!

Florbela Espanca


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Às vezes



Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.

Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.

"Sophia de Mello Breyner Andresen"


quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Duas versões para um mesmo poema




The Dying need but little, Dear

The Dying need but little, Dear,
A Glass of Water’s all,
A Flower’s unobtrusive face
To punctuate the Wall,

A Fan, perhaps, a Friend’s Regret
And Certainty that one
No color in the Rainbow
Perceive, when you are gone.




Quem está morrendo, amor,
Precisa de tão pouco:
Um copo d’água, o Rosto
Discreto de uma Flor,

Um Leque, talvez, Uma Dor Amiga,
E a Certeza que nenhuma cor
Do Arco-Íris perceba
Quando embora for.


(Tradução de Ana Cristina César)

Quem morre, Querido, de pouco precisa

Quem morre, Querido, de pouco precisa
Apenas um Copo d’Água
O Rosto discreto da flor
Pontuando a Parede lisa,
Um Leque, talvez, do Amigo a Mágoa
E a certeza de que alguém
No Arco-Íris não verá mais cor
Depois que você se for.

Emily Dickson

(Tradução de Isa Mara Lando)
retirado de http://www.storm-magazine.com

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quando
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta.
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Urgentemente


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
é urgente destruir certas palavras.
odio, solidão e crueldade,
alguns lamentos
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugenio de Andrade


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Aspiração:

http://www.onlinephotographers.org/pics/4425_b.jpg

“Ser palmeira! existir num píncaro azulado,
Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando;
Dar ao sopro do mar o seio perfumado,
Ora os leques abrindo, ora os leques fechando;


Só de meu cimo, só de meu trono, os rumores
Do dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol,
E no azul dialogar com o espírito das flores,
Que invisível ascende e vai falar ao sol;


Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa,
Dilatar-se a cantar a alma sonora e quente
Das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa,
Dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;


E juntando a essa voz o glorioso murmúrio
De minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus
Ir com ela através do horizonte purpúreo
E penetrar nos céus;


Ser palmeira, depois de homem ter sido esta alma
Que vibra em mim, sentir que novamente vibra,
E eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra:


E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques treme,
E estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó,
Tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;


Que bom dizer então bem alto ao firmamento
O que outrora jamais — homem — dizer não pude,
Da menor sensação ao máximo tormento
Quanto passa através minha existência rude!


E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem,
Quando aos arrancos vem bufando o temporal,
— Poeta — bramir então à noturna bafagem,
Meu canto triunfal!


E isto que aqui digo então dizer: — que te amo,
Mãe natureza! mas de modo tal que o entendas,
Como entendes a voz do pássaro no ramo
E o eco que têm no oceano as borrascas tremendas;


E pedir que, o uno sol, a cuja luz referves,
Ou no verme do chão ou na flor que sorri,
Mais tarde, em qualquer tempo, a minh’alma conserves,
Para que eternamente eu me lembre de ti.”


Alberto Oliveira


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Desejo Vão

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!


Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!


Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!


E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…


Florbela Espanca - Livro de Mágoas


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A minha Dor



A minha Dor é um convento ideal

Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.


Os sinos têm dobres de agonias

Ao gemer, comovidos, o seu mal...

E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...



A minha Dor é um convento.
Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!


Nesse triste convento aonde eu moro,

Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

Florbela Espanca



INSCRIÇÃO

Alinhar à esquerda

Quando

eu
morrer
voltarei
para
buscar
os instantes
que
não
vivi
junto
do mar

Sofia de Melo



quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vigília



Altas horas da noite.
Acordado,
Rememoro o passado,
Analiso o presente
E adivinho o futuro.
Procuro,
Humanamente,
Dar sentido
Ao que fui,
Ao que sou
E ao que serei.
Mas a minha verdade
Não tem a claridade
Da razão.
É esta aflição
Continuada
Que no meu coração
Bate descompassada
.


Miguel Torga


terça-feira, 2 de junho de 2009

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O vento sopra lá fora.
Faz-me mais sózinho, e agora
Porque não choro, ele chora.
É um som abstrato e fundo.
Vem do fim vago do mundo.
Seu sentido é ser profundo.

Diz-me que nada há em tudo.
Que a virtude não é escudo
E que o melhor é ser mudo.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sou isso, enfim …

Começo a conhecer-me.

Não existo.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,

ou metade desse intervalo, porque também há vida …

Sou isso, enfim …

Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.

Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.

É um universo barato.


Fernando Pessoa

Não é tarde




O amor é como o fogo, não se propaga
onde o ar escasseia. Mas não te preocupes
eu fecho mais a porta.


Gestos e paveias, acendalhas, o isqueiro
funciona! Poderoso combustível
é o corpo. Acende deste lado.


Ainda não é tarde, foi agora anunciado
pela rádio, são dezoito e vinte cinco.
Respira-nos, repara, a ilusão


de que a vida não se esgota, como os saldos
de verão. E a morte, à medida que te despe
vai perdendo o nosso número de telefone.



José Miguel Silva


quinta-feira, 28 de maio de 2009

Os melhores anos da minha vida







Os melhores anos da minha vida
passaram comigo ausente, passaram
numa corrente subterrânea.
Não me apercebi de nada, distraído
com a queda das folhas,
a densa mistura de pão e desordem.

Estava tudo em aberto, mas eu não sabia
senão de pequenas querelas,
e tímidos passos à toa, sempre à espera
de não ter futuro. Sentado, como um pobre,
sobre o poço de petróleo,
eu media com tesouras as semanas,
misturava-me com livros, ansiava
pelo dia em que deixasse de sangrar.

Os melhores anos da minha vida
troquei-os por isto.



josé miguel silva
vista para um pátio seguido de desordem
relógio d'água
2003.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Se tu viesses ver-me

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Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

Florbela Espanca - Charneca em Flor

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Barrow-on-Furness

orkut e hi5, Goticos, boca, preta, glitter, mensagem
Sou vil, sou reles, como toda a gente
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.

É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.


Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo c leio.


Justificar-me? Sou quem todos são...
Modificar-me? Para meu igual?...
— Acaba lá com isso, ó coração!


Álvaro de Campos


orkut e hi5, Goticos, boca, preta, glitter, mensagem

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O meu carteiro

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4NgucXiLgy7EA7jPi3s1RqBf0zWi__EcmMvWhOYPLP5oHIWbJKiPNJsuYygN_TjdOEv2LDwMDYIpxV87xQIc5gii6QbC66mIyulbUcdF1nV_ImA5DTo58BQMVhuSgymQ6Pa48woPQI_id/s320/cartas.jpg


o meu carteiro, adoro-o
se me traz facturas saldos bancários
zero na conta a ordem
menos que zero na conta a prazo

poupanças nada e
crédito disparando
faz várias perninhas ali mesmo
no átrio em cima do tapete
desculpando-se com habilidades várias
de modo que eu
ansiosa pelo seu toque
visto-me como quem não quer, mas quero
e peço-lhe mordiscando-lhe a orelha: por obséquio
mais papelada amanhã
dessa que me agiganta até
transformar-me em nada
onde nos desencontraremos

Bénédicte Houart, in Aluimentos



terça-feira, 5 de maio de 2009

Deve chamar-se tristeza

Alinhar à esquerda

Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.

Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.


Fernando Pessoa


 
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