quinta-feira, 31 de julho de 2008

“Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio.
Realmente um privilégio: ser pioneiro.
Dureza que gera espírito.Um prêmio moral”.

Athos Bulcão

Faleceu, hoje 31 de julho de 2008, em Brasília, o artista plástico Athos Bulcão.

Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de julho de 1918. Dedicou grande parte da sua vida a Brasília, cidade que escolheu para viver e presentear com a sua obra. Lá chegou em 18 de agosto de 1958, onde residiu até hoje e onde permancerá, pois por sua vontade, será sepultado no Cemitério Campo da Esperança.

Athos Bulcão é responsável pelo conjunto de uma obra de qualidade artística inigualável. Artista múltiplo, sua arte está ao alcance do cidadão em seu trajeto cotidiano: no parque, nos muros, nas escolas, nos edifícios residenciais e nos prédios públicos. Como diria o arquiteto e amigo pessoal, João Filgueiras Lima, o Lelé, “como pensar o Teatro Nacional sem os relevos admiráveis que revestem as duas empenas do edifício, ou o espaço magnífico do salão do Itamaraty sem suas treliças coloridas?”, difícil imaginar.

Athos expôs sua obra nos mais importantes espaços culturais do país. Viajou pelo mundo afora e por lá deixou a sua marca. Seus painéis podem ser vistos na França, Itália, Argélia, Argentina, Cabo Verde, dentre outros tantos.

Athos foi um artista completo, além das pinturas em telas, fez máscaras, foto montagens, desenhos, gravuras e integrações arquitetônicas.

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Algumas obras - Pinturas









CANÇÃO DE OUTONO


O outono toca realejo

No pátio da minha vida,

Velha canção, sempre a mesma,

Sobe a vidraça descida...,


Tristeza? Encanto? Desejo?

Como é possível sabê-lo?

Um gozo incerto e dorido

De carícia a contrapelo...


Partir, ó alma, que dizes?

Colher as horas, em suma...

Mas os caminhos do Outono

Vão dar em parte nenhuma!

(Mario Quintana)

quarta-feira, 30 de julho de 2008


Aos que vierem depois de nós

Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)


Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura.
Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade.
Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia que está para chegar.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"
Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e,
sem temores,
deixar correr o breve tempo.
Mas
evitar a violência, retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo.

Realmente, vivemos tempos sombrios.
Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.

Assim passou o tempo que me foi concedido na terra.
No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia.
Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas.
E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.
Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.
E, contudo, sabemos
que
também o ódio contra a baixeza
endurece a voz.

Ah, os que quisemos preparar terreno
para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.


terça-feira, 29 de julho de 2008

Remorso


Às vezes, uma dor me desespera…
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera…
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

...
Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,
...
Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
por pudor os versos que não disse!


Olavo Bilac


segunda-feira, 28 de julho de 2008

Serra do Japi - SELOS

Borboleta - consul fabius drurii

Tangará Caiana

A Serra do Japi é um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do interior do estado de São Paulo. Ocupa uma área de 350 km2, a maior parte nos municípios de Jundiaí e Cabreúva. Situada em uma região densamente povoada, entre São Paulo e Campinas.
A Serra do Japi abriga uma fauna bastante diversificada, com mais de 650 espécies de borboletas identificadas e centenas de espécies de outros insetos, aracnídeos, anfíbios e répteis. Dentre as aves, se destacam gaviões, acauãs, seriemas, almas-de-gato, corujas, beija-flores, pica-paus, joões-de-barro, tesourinhas, arapongas, gralhas, corruíras, sabiás, sanhaços, saíras, tizius e tico-ticos, entre outros. Mamíferos como gambás, tatus, quatis, morcegos, bugios, macacos sauá, cachorros-do-mato, jaguatiricas, gatos-maracajá, onças-pardas, furões, catetos, serelepes, preás, ouriços, veados, capivaras, tapitis e preguiças, dentre muitos outros, são encontrados em seu rico ecossistema.
Outra notória importância da Serra do Japi está nos mananciais de água de excelente qualidade, sendo nascente de inúmeros córregos de águas cristalinas.
Paisagisticamente, a Serra do Japi tem grande relevância para a cidade de Jundiaí, pois em boa parte da zona urbana pode-se avistar a paisagem serrana na face sudoeste do município, propiciando cenário de notável beleza à população.

Selo para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente.



Com esta emissão, os Correios ratificam, por meio da Filatelia, o compromisso de propagar o patrimônio natural brasileiro, reconhecendo sua importância para o meio ambiente e o turismo nacional.

O bloco apresenta um recanto da Serra do Japi, coberto pela floresta, de características peculiares, que ocupa a maior parte da área florestal da região, bem como algumas espécies da fauna, típicas do local. Ao centro, destacam-se os dois selos divulgando, o da esquerda, o pássaro Saíra amarelo – Tangara cayana cayana, e o da direita, a borboleta Consul fabius drurii. Na parte superior do bloco visualiza-se, da esquerda à direita, Dacnis cayana cayana – “Saí-azul”, Diaethria clymena – “Borboleta 88”, Zonotrichia capensis subtorquata – “Tico-tico”, e o besouro da família Chrysomelidae“Crisomelídeo”. Na parte inferior do bloco, seguindo a mesma ordem, destacam-se: Phillomedusa burmeisteri – “Perereca da folhagem”, a borboleta Heraclides thoas brasiliensis, e Felis pardalis – “Jaguatirica”. Presente também, a logomarca do Ano Internacional do Planeta Terra, instituído pela UNESCO. Foram utilizadas as técnicas de desenho em aquarela e computação gráfica.


sábado, 26 de julho de 2008

Primavera


Primavera

O teu amor, querida,
fez um dia de primavera
neste começo de outono
que é a minha vida.

E do ramo, de onde as primeiras folhas
se soltavam pálidas, sem cor,
surgiu uma flor imprevista:
o teu amor...

Teu amor chegou assim,como uma coisa
que no fundo se deseja mas não se espera,
emocionando o coração, neste começo de outono
como um dia de primavera!

JG de Araujo Jorge


Se eu fosse :

Hora do dia... Seria madrugada, onde se pode marcar encontro comigo mesma e, não ser interrompida. …


...direção... se eu fosse direção apontaria para os céus. ...

móvel... uma estante cheinha de livros. ...


Liquido... sangue que corre nas veias, ou armazenado nos bancos de sangue.



...pecado... eu sou pecado, pecadora.



pedra... Eu gostaria de ser uma pedra milenar, e ai me esqueceria que sou da estirpe de Caim...

...árvore... Carvalho com certeza. ...


flor... É dificil escolher uma só. Talvez as camélias do Leblon. Ou as flores do mal de Baudellaire. Ou as singelas quaresmeiras de minha cidade.



...clima... frio, convidativo a um chá com bolinho de chuva, e a leitura de um bom livro.


...instrumento musical... Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo , ou Um violino de trezentos anos.... ...


...elemento... água…


...cor... azul belleza (a cor dos olhos da minha neta).


...animal... se fosse animal queria ser gazela. ..

...som... de muitas águas. ...

...música... Música ao Longe - Érico Veríssimo, ou música clássica.


...sentimento... amor."O amor é o segredo da vida." ( H. Drumond - o Dom Supremo). . Agora, pois, permaneçam a fé, a esperança e o amor, esses três, mas o maior destes é o amor.


...livro... Biblia Sagrada. (A Bíblia é, também, literatura pura, amor, sexo, morte, drama, traição, paixão, crime e castigo, politica e governo, ascensão e queda. Mas é principalmente a historia da queda e, redenção do homem através do plano salvitico na cruz por Jesus Cristo).

...comida... pão. Melhor, cinco pães e dois peixinhos e, alimentar mais de cinco mil pessoas de uma só vez. ...




...lugar... a praia de Tamandaré/PE…

...cheiro... priprioca ...

...palavra... perdão. ...

...verbo... Amar - verbo intransitivo. (Mario de Andrade)

...objecto... colcha de retalho

...parte do corpo... "Se o corpo todo fosse uma parte só, não existiria corpo. De fato, existem muitas partes, mas um só corpo. Portanto, o olho não pode dizer para a mão: "Eu não preciso de você." E a cabeça não pode dizer para os pés: "Não preciso de vocês. O fato é que as partes do corpo que parecem ser as mais fracas são as mais necessárias, e aquelas que achamos menos honrosas são as que tratamos com mais honra. E as partes que parecem ser feias recebem um cuidado especial." Biblia Sagrada.


...expressão facial...Surpresa. Eu sempre me surpreendo com as pessoas, com o mundo, com a tecnologia, com a natureza, com um recém nascido.



...desenho animado...Piu - Piu - Eu acho que ví um gatinho...

...um filme... O pagador de promessas - baseado na obra de Dias Gomes

...número... 25/12 - É natal...

…estação... primavera ( Pois eis que já passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra; já chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra Ct 2.12).


...frase... “Oh Mestre, fazei de mim um instrumento de tua paz" ( Francisco de Assis)

http://meiolua.blogspot.com/2007_05_01_archive.html - a dona do blog sugeriu que copiasse as perguntas e as respondesse. Ela iria visitar o blog. Bem vinda meiolua! Gostou? Volte sempre!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Conto - O "causo" da consumidora de frutas

Todos os dias, invariavelmente, Eliana comprava uma fruta na banca que ficava na rodoviária. Era seu lanche vespertino no trabalho.Algumas vezes comprava uvas, outras vezes, fruta de conde, caqui, sapoti. Na safra de morangos, comprava-os em bandejas.
Eliana já era conhecida do vendedor, e por isso comentou: essa banca é muito boa, tem muitas variedades de frutas, olha só, tem até jabuticaba, murici, pitomba, kiwi, só não tem goiabas.
- A senhora gosta de goiabas, pois vou trazê-las especialmente para a Senhora. Amanhã.
Dia seguinte, assim que se aproximou da banca de frutas o vendedor foi alardeando: goiaba branca, docinha, molinha, goooiiiiaaaba branca...
- Vai levar quantas freguesa?
- Nenhuma, eu gosto das vermelhas e mais duras.
- Gostas da vermelha e dura, amanhã eu trago, grande, vermelha e dura...pode vir que tem...
- As pessoas presentes, riram-se com o canto da boca, e o vendedor ria-se com um brilho malicioso nos olhinhos gordos e apertados.
Eliana nesse dia não comprou fruta alguma, saiu cismativa, não entendia porque as pessoas riram. Qual a graça em preferir goiabas vermelhas e firmes às brancas amolecidas?

Roselee Salles

O Mito da Caverna de Platão


Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o priosioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.


Extraído do livro "Convite à Filosofia" de Marilena Chaui.

quinta-feira, 24 de julho de 2008


Há muitos assombros

Sófocles, trad. Lawrence Flores Pereira.


Coro de Antígona, 332-375


Pollá tá deiná…


Há muitos assombros,
mas nada tão assombroso
quanto o homem


É ele que, sobre o branco do mar,
por entre os vórtices das vagas,
foge ao tempestuoso vento sul.
E a maior dentre as deusas, a terra
indestrutível e infatigável,


ele gasta indo e vindo o arado ano a ano,
lavrando com a estirpe eqüina.


E o povo dos voadores pássaros
o homem destro em rastros, com redes
bem tramadas, após emboscá-lo
o caça, e a tribo da animália bruta,
e a prole que do sal do mar se nutre,
e enreda com trapas as feras rudes
que rondam nos penhascos,
e o cavalo de lombo hirsuto
ele o prende, jugando a nuca,
e o indomável touro das montanhas.


E a palavra e o pensamento alado
e o elã que governa a cidade
aprendeu, e a fugir das borrascosas
flechas e dos granizos
dos inóspitos climas:
pleno de tramas, preso nas tramas
de nada que está por vir. Só não sabe
fugir ao sítio dos mortos,
mas contra as insanáveis pragas
um remédio ele urdiu.


Tendo algo do sábio e dos ardis
da arte bem mais que o esperado,
um dia alcança o mal, no outro, o bem.
Urdindo nas leis da terra
e na justiça jurada aos deuses,
é um grande na pátria, pária na pátria
se na audácia lhe escapa o bem.
Jamais partilhe meu Fogo
nem meus pensares
quem assim age.


http://pedrosette.com/

coisas em si

Tenho assistido nessa ultima semana no Programa do JÔ, uma enquete sobre o que é a coisa em si. As respostas são as mais diversas, algumas hilárias, e muitos respondem não sei. Confesso que se tivesse sido eu a interpelada provavelmente responderia: não sei .
Bem obrou o Ministro da Educação em reintroduzir o estudo da filosofia no ensino médio....

coisas em si - (expressão de origem Kantiana) são as coisas que existem mas não podem ser experimentadas pelos seres humanos, pois não podem ser intuídas.
Segundo Kant os seres humanos não podem saber da essência das coisas-em-sí, mas saber apenas das coisas segundo nossos esquemas mentais nos permitem apreender a experiência, este afirma a impossibilidade da consciência alcançar a Coisa-em-si, isto é, a realidade não fenomênica. ( Fenômeno é a definição de qualquer evento observável).

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Nunca eu tivera querido

dizer palavra tão louca:

bateu-me o vento na boca,

e depois no teu ouvido.

Levou somente a palavra,

deixou ficar o sentido.


Cecilia Meireles


quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ode aos calhordas


Os calhordas são casados com damas gordas

Que às vezes se entregam à benemerência:

As damas dos calhordas chamam-se calhôrdas

E cumprem seu dever com muita eficiência

Os filhos dos calhordas vivem muito bem

E fazem tolices que são perdoadas.

Quanto aos calhordas pessoalmente porém

Não fazem tolices — nunca fazem nada.

Quando um calhorda se dirige a mim

Sinto no seu olho certa complacência.

Ele acha que o pobre e o remediado

Devem procurar viver com decência.

Os calhordas às vezes ficam resfriados

E essa notícia logo vem nos jornais:

“O Sr. Calhorda acha-se acamado

E as lamentações da Pátria são gerais.”

Os calhordas não morrem — não morrem jamais

Reservam o bronze para futuros bustos

Que outros calhordas da nova geração

Hão de inaugurar em meio de arbustos.

O calhorda diz: “Eu pessoalmente

Acho que as coisas não vão indo bem

Pois há muita gente má e despeitada

Que não está contente com aquilo que tem.”

Os calhordas recebem muitos telegramas

E manifestações de alegres escolares

Que por este meio vão se acalhordando

E amanhã serão calhordas exemplares.

Os calhordas sorriem ao Banco e ao Poder

E são recebidos pelas Embaixadas.

Gostam muito de missas de ação de graças

E às sextas-feiras comem peixadas

Rubem Braga





Além da Terra,
além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos! vamos conjugar o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente,
acima das gramáticas e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempre amar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

Carlos Drummond de Andrade


terça-feira, 22 de julho de 2008

Morro e não vejo tudo....

Da série “eu morro e não vejo tudo”, consta no andamento de um processo que corre no Fórum Regional do Jabaquara/SP o seguinte despacho : “Fls.382 - Digam os réus se já podem pagar desde logo os honorários do advogado da autora, pois a ação será julgada procedente.

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Despacho Genérico - Bombril ( hi,hi,hi,hi,hi,hi,)

Deve ser aquele de mil e um utilidades.

Fonte: Diario de um juiz


Senador Magno Malta

O senador Magno Malta (PR) começa a voltar com a bateria recarregada à cena política. A CPI da Pedofilia, presidida por ele, alcançou repercussão internacional e ganhou destaque no jornal francês Le Monde no espanhol El Pais, numa nova demonstração de que o senador tem faro para escolher missões onde assume o papel de xerife.

Depois da exposição que conseguiu na CPI do Narcotráfico, a cruzada que o senador encabeça agora contra o abuso sexual de crianças é o tipo de tema que provoca comoção. Coincidência ou não, mais relatos sobre esse tipo de violência tem vindo à tona. Em Roraima, um procurador-geral do Estado foi acusado de envolvimento nesse tipo de crime. Aqui no Estado, a cada semana tem surgido um relato diferente. Até um contrato bizarro entre um pedófilo e um menino de 11 anos foi encontrado.

É impressão ou houve um aumento do número de casos? “Não aumentou. As pessoas é que estão adquirindo mais coragem de falar. Foi a CPI que alertou as pessoas”, responde a promotora de Justiça Karla Sandoval, que acompanha de perto as investigações.

Para Magno Malta, a CPI ajudou a quebrar a lógica de que o pedófilo era o desempregado, o alcoólatra: “Existe isso, mas também existem pedófilos nos condomínios, nas coberturas, em todos os lugares”.

O tema, de certa forma, deixa de ser tabu. O senador já percorreu São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Porto Alegre. Nos próximos dias, segue para Roraima. Por onde passa, ele se reúne com juízes, desembargadores, delegados e mostra fotos e vídeos chocantes apreendidos em operações da Polícia Federal e em álbuns do Orkut que estão sob investigação. Há casos terríveis de crianças de três anos e até bebês violentados.

As cenas são tão pesadas que as reações de quem vê são diversas. Alguns choram, outras não conseguem olhar. Há quem passe mal. “Mostrei ao presidente Lula e ele não conseguiu passar da segunda foto”.

O objetivo de exibir às autoridades o horror da pedofilia é um só, explica o senador: sensibilizar para que elas se lembrem dessas cenas na hora de julgar os acusados de praticar esse crime. Mas Magno não recorre apenas à emoção. A CPI da Pedofilia já conseguiu quebrar o sigilo dos álbuns do Orkut. Há também a proposta de tipificação de conduta: os abusos cometidos em criança de 0 a 14 anos serão considerados casos de pedofilia, com penas que podem chegar a 30 anos, sem progressão de regime.

Outro caminho é o termo de ajuste de conduta com as operadoras de internet. Há previsão, por exemplo, de que elas sejam obrigadas a criar filtros para que os computadores deletem automaticamente imagens de pornografia infantil.

A pedofilia, destaca o senador, movimenta US$ 3 bilhões por ano na Internet, sendo que o Brasil alcança uma triste primeira colocação nesse ranking. O senador alerta ainda para investigações paradas nos tribunais e em delegacias: “Existe o império do medo, da influência. E nós trataremos o nosso Estado com a mesma dureza dos outros Estados. Pode ser empresário, religioso ou político”.

Fonte: A Gazeta


segunda-feira, 21 de julho de 2008

Vida de Advogado


Se o réu pobre e obscuro encontra a seu lado, mesmo nos processos mais disputados e perigosos, o defensor que fraternalmente o assiste, isso significa que no coração dos advogados não encontra abrigo apenas a cupidez de dinheiro e a sede de glória, mas também, com frequência, a caridade cristã, que impõe não deixar o inocente a sós com sua dor e o culpado a sós com sua vergonha.

Há, porém, algo mais: quando alguem passa perto da violência que ameça o direito e, em vez de prosseguir em seu caminho fingindo nada ver, pára indignado para interpelar o prepotente, e sem cuidar do perigo que corre lança-se generosamente na briga para tomar a defesa do mais fraco, que tem razão, isso se chama coragem civil, que é virtude ainda mais rara que a caridade.

Calamandrei - “Eles, os juízes, vistos por um advogado.”


domingo, 20 de julho de 2008


Dia do Amigo - 20/07


Amigos são flores... São flores plantadas ao longo do nosso caminho para que saibamos encontrar primavera o ano todo.Quando o outono chega, cheio de beleza e melancolia, os amigos estão presentes nos trazendo alegria.E, quando o inverno vem frio e escuro, trazendo saudades e noites longas, os amigos nos trazem calor e luz com o brilho da sua presença.Essas flores belas perfumam nossa existência e nos fazem ver que não estamos sozinhos.Se amigos são flores que duram um ano ou um dia não faz diferença, porque o importante são as marcas que deixam nas nossas vidas.São as horas compartilhadas, horas de carinho, horas de amor e cuidado.Um amigo que se doa sem esperar um retorno, que se entrega pelo prazer dever a felicidade do outro, é uma flor que merece cuidados especiais; um ser grande e importante que nos emociona só pelo fato de existir.É alguém que consegue chegar até nossa alma... É um presente de Deus.Se todo o mundo nos virar as costas e, no meio desse mundo, uma flor, nem que seja uma única flor de amizade nascer em nosso jardim, então toda a vida já terá valido a pena.

(autor desconhecido)

quinta-feira, 17 de julho de 2008



Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.


E a cascata aérea
de sua garganta,

mais leve.

E o que lembra,
ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,

mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,

mais leve.

Cecília Meireles

quarta-feira, 16 de julho de 2008

É melhor coxear pelo caminho


...

É melhor coxear pelo caminho

do que avançar a grandes passos fora dele.

Porque quem coxeia pelo caminho,

embora avance devagar

aproxima-se da meta,

enquanto que quem segue fora dele ...

quanto mais corre mais se afasta.


Santo Agostinho


Uma parte de mim...


Uma parte de mim

é todo mundo,
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte—
que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar


terça-feira, 15 de julho de 2008

HAICAI - inverno (Kigo ipê amarelo)


Ipê amarelo

Autor da foto: Marcio Negrão

(1)

Manhã dourada:

ipê amarelo em flor
na minha rua.


(2)

Ipê amarelo
Filtram-se raios de sol

entre seus ramos.


(3)

Belo contraste:

na flor do ipê amarelo,

borboleta azul.


(Roselee Salles)


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sairei de mim mesmo....


"....Sairei de mim mesmo em busca das melodias esquecidas na memória, em busca dos instantes de total abandono e beleza, em busca dos milagres ainda não acontecidos...."
(Vinicius de Moraes)

domingo, 13 de julho de 2008

Belo, Belo


Belo, belo, minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto.


Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco.


Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco.


Manuel Bandeira

sábado, 12 de julho de 2008

Glória de Sant'Anna - Eu canto...


Eu canto as gentes vivas e as ausentes
as coisas por fazer ou já desfeitas
as empenas das casas levantadas
as empenas das casas esqueléticas

o vento a flor a pedra a dor a chuva
o perfil a palavra a mão a fome
o verme o pássaro o insecto a nuvem
e o mar e o grito e o pão que o tempo absorve

mas sobre tudo eu canto aí sobre tudo
este morrer de amar cada segundo
horizontes por que me desfiguro
à mortal palidez de um céu inútil.


sexta-feira, 11 de julho de 2008

Haicai Inverno


Pombos (1)

Num galho pousam
Pombos arrepiados -
Manhã de inverno.



Pombos (2)

Galhos balouçando
Pombos arrulhando
Ao sol de inverno

 
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