segunda-feira, 31 de março de 2008

Eu e os Semideuses

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.......
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?"

( Fernando Pessoa )

domingo, 30 de março de 2008

Mãos de dama


Era época de ferias e o Tio Rique que só tinha dois filhos homens e já adultos, gostava muito que as sobrinhas passassem ferias em sua casa. Gostava especialmente da mais nova. Waleska, a menor, tinha cabelos loiros encarocolados, Rosemarie tinha cabelos loiros porém lisos. Eram primas. Tio Rique expressava sua preferência pelos cabelos cacheados, parece um anjinho de calendário repetia. Rosemarie não se incomodava com os elogios à prima menor, preferia seus cabelos lisos, não precisava amarrá-los, de manhã quando acordava estavam quase penteados. As duas meninas de seis e nove anos ladeavam o tio Henrique, estavam sentados em uma rede. Tio Rique segura as mãozinhas de Waleska e diz: tens lindas mãos, dedos finos e longos, mãos de dama. Rosemarie, olha suas mãos pequenas, dedos curtos e roliços, fica visivelmnte acanhada. Tio Rique tenta reparar: suas mãos também são bonitinhas, curtinhas, parecem de uma bonequinha.Rosemarie guardou o comentário em seu intimo por toda a vida.
A vida separou as meninas. Quinze anos depois se encontram.Rosemarie está gravida pela primeira vez, suas mãos edemaciadas parecem mais ainda com mãos de boneca. Rosemarie repara que Waleska está envelhecida, tem expressão cansada, os cabelos alisados não lhe conferem mais ares angelical.
- Então Waleska que tens feito da vida?
- Filhos, muitos filhos.
- Não sabias que tinhas casado.
- Não, não casei...
- Mas, tens quantos filhos?
- Cinco filhos, um com cinco anos, outro de quatro, três, dois, e ultimo que ainda vai fazer um ano. Comecei aos 14 anos e não parei mais...
-Rosemarie olha as mãos de Waleska, seus dedos ainda são finos e longos. Mãos de dama.
Só as mãos...


Roselee Salles

sábado, 29 de março de 2008

Quatro "Esses"


Solano e Sônia se apaixonaram e se casaram. Almas gêmeas, diziam, feitos um para o outro. Dava gosto vê-los juntinhos, apaixonados.

O enxoval bordado à mão com o "esse" repetido lembrava cifrões, prenunciavam plurais, tais quais felicidades, crianças, flores, férias, entre outros adjetivos venturosos.

O destino se cumpriu, o casal progrediu financeiramente, tinham carros, casa própria, casa de férias. Nasceu a primeira filha. O pai queria batiza-la com o nome de Silvia, a mãe argumentou que já tinha muita gente na familia com essa letra, pai, mãe, e tia. É verdade, a irmã de Sonia chamava-se Solange e não morava na mesma cidade, filha de pais abastados estava sendo educada, desde a mais tenra idade em colégio de freiras, era normalista interna. Solange só vinha anualmente passar férias escolares em casa de seus pais.

Prevaleceu a argumentação da genitora e a criança foi batizada com o nome de Ana.

Coincidiram as férias escolares de Solange com a chegada da sobrinha. Mal chegou em casa, antes mesmo de desfazer as malas, Solange saiu quase correndo para conhecer Aninha. Naquele dia, e todos os demais de suas férias Solange jantou, dormiu, na casa de sua irmã. Solange não saia de perto de sua linda sobrinha. Os laços de amizade com o cunhado se estreitaram naquele período.

Um ano depois Solange retorna definitivamente. Havia concluído seu curso de Magistério. A cidade ganhava mais uma professora. E, que professorinha! Linda, jovem, solteira, caçula de família abastada, um partidão diziam as matronas, esperançosas que um de seus filhos fosse alvo dos encantos de Solange.

Solange começou o exercício do magistério na Escola Municipal; competente, jovial cheia de novidades aprendidas em tradicional colégio de freiras, a todos conquistou.

Dava aulas no período matutino, e no período vespertino Solange visitava a irmã e sobrinha. Jantava lá também e so depois, bem mais tarde, voltava à casa paterna acompanhada pelo cunhado, condição sine qua non, imposta pelo pai de Solange. Não ficava bem uma mocinha andar desacompanhada pelas ruas escuras da cidade, é que naquela época não tinha luz elétrica na localidade.

Nesse meio tempo Sônia engravidou pela segunda vez, e depois mais uma vez, em seguida outra gravidez. Quatro filhos consecutivos. As pessoas se acostumaram a ver Sônia grávida, já nem lembravam-se como ela era antes. Depois desacostumaram de vê-la. Sônia vivia trancafiada em casa cuidando da filharada, eram tantos e tão próximos os nascimentos que quando dava a luz, o antecessor ainda não caminhava.

A amizade entre as irmãs esfriou. Solange não mais freqüntava a casa da irmã. Agora, era o cunhado que freqüentava a casa do sogro, jantava lá, e depois do jantar conversava horas a fio com Solange, no jardim da casa, sob um caramanchão pouco iluminado. Fumavam os dois, e soltavam longas baforadas...

As amigas perguntavam, por quê Solange tão bonita, bem empregada e de família tão boa não casara ainda. Solange desconversava, ainda não encontrara seu par perfeito, talvez não tivesse vocação para o casamento. Culpa da educação rígida impingida pelas freiras: tudo era pecado. As colegas insistiam, devia se preocupar em arranjar um marido, o tempo estava passando, você ja tem vinte e cinco anos...

Pois é, naqueles tempos, as moças casavam-se muito cedo, e ter vinte cincos anos e solteira era quase certo que ficaria pra titia. Vitalina, era assim que eram chamadas as mulheres que por falta de opção, ou por escolha ficavam solteiras.

Certa manhã Solange comparece a diretoria da escola para justificar sua falta no dia anterior. Ontem, não vim, disse ela, porque fui a cidade vizinha casar-me.

- Caaasaaar..., diz a Diretora com uma flexão de voz que não consegue disfarçar a surpresa

- Isso, casei ontem, na cidade vizinha, só no cartório.

- Ahnnnn, com quem?

- Com Alberto.

- Alberto, o irmão de Solano?

- Sim, com Alberto o irmão de Solano.

-Mas ele só tem dezenove anos...

- Olha aí o preconceito, por isso namorávamos em segredo.

- Desculpe, mas é tão inusitado, você que nunca tinha namorado antes e, dizia não ter vocação para o casamento. Onde estão morando.

- Eu na casa de meus pais, ele na casa dos pais dele.

- Com assim?

- Como decidimos casar rapidamente, não deu tempo, ainda , de arrumar nosso ninho.

Semana seguinte ao casamento Alberto decidiu tentar a vida em São Paulo; tinha orgulho, não queria morar na casa do sogro. Quando se estabelecesse viria buscar a esposinha. Isso foi o que Solange contou as amigas, que ainda nem tinham digerido a noticia do casório repentino.

A barriga de Solange cresceu rapidamente. Sete meses depois nasceu uma linda menina. Parto prematuro dizia Solange. A criança foi registrada com o nome de Sol. Por quê Sol, perguntavam-lhe. Acho bonito, é pequeno e forte, Sol e luz, é vida.

Solano, agora duplamente cunhado de Solange, e na ausência de Alberto, redobrou-se em cuidados para com Solange e Sol. Anos seguidos freqüentou a casa de Solange, que por sua vez nunca saiu da casa paterna.

Quando Sol tinha cinco anos foi atender na porta. Era Alberto. Oi, diz Alberto, voce é a Sol? Sim, diz a menina e você quem é? Eu, eu... sou Alberto. Você é muito bonita parece com a minha mãe, sua avó, tem os mesmos cabelos cacheados, olhos cor de mel. Afagou timidamente a cabeça da menina . Chama a sua mãe?

O encontro entre os dois foi frio, mais respeitoso, Alberto pediu o divórcio, disse que vivia maritalmente com uma paulista, já tinha um filho, precisava legalizar a situação. Você entende, não é mesmo?

Solano e Solange continuaram amigos. Só havia um detalhe estranho: Solano não entrava mais na casa do sogro, ficava no jardim embaixo do caramanchão cheiroso, formado pelos jasminzeiros.

No casamento de Sol, Solano entrou, orgulhosamente, de braços dados com sua... sua sobrinha. Alberto continuava morando em São Paulo. Não pode vir ao casamento.

As irmãs Sônia e Solange jamais se voltaram a falar; e eu não entendo porquê...


quarta-feira, 26 de março de 2008

Se eu fosse...


Se eu fosse :

...hora do dia... Seria madrugada, onde se pode marcar encontro comigo mesma e, não ser interrompida.

…direção... se eu fosse direção apontaria para os céus.

...móvel... uma estante cheinha de livros.

...líquido... sangue que corre nas veias, ou armazenado nos bancos de sangue.

...pecado... eu sou pecado, pecadora.

...pedra... Eu gostaria de ser uma pedra milenar, e ai me esqueceria que sou da estirpe de Caim...

...árvore... Carvalho com certeza.

...flor... É dificil escolher uma só. Talvez as camélias do Leblon. Ou as flores do mal de Baudellaire. Ou as singelas quaresmeiras de minha cidade.

...clima... frio, convidativo a um chá com bolinho de chuva, e a leitura de um bom livro.

...instrumento musical... Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo , ou Um violino de trezentos anos....

...elemento... água…

...cor... azul belleza (a cor dos olhos da minha neta).

...animal... se fosse animal queria ser gazela.

...som... de muitas águas.

...música... Música ao Longe -
Érico Veríssimo, ou música clássica.

...sentimento... amor."O amor é o segredo da vida." ( H. Drumond - o Dom Supremo). . Agora, pois, permaneçam a fé, a esperança e o amor, esses três, mas o maior destes é o amor.

...livro... Biblia Sagrada. (A Bíblia é, também, literatura pura, amor, sexo, morte, drama, traição, paixão, crime e castigo, politica e governo, ascensão e queda. Mas é principalmente a historia da queda e, redenção do homem através do plano salvitico na cruz por Jesus Cristo).

...comida... pão. Melhor, cinco pães e dois peixinhos e, alimentar mais de cinco mil pessoas de uma só vez.

...lugar... a praia de Tamandaré/PE…

...cheiro... priprioca

...palavra... perdão.

...verbo... Amar - verbo intransitivo. (Mario de Andrade)

...objecto... colcha de retalho

...parte do corpo... Se o corpo todo fosse uma parte só, não existiria corpo. De fato, existem muitas partes, mas um só corpo. Portanto, o olho não pode dizer para a mão: "Eu não preciso de você." E a cabeça não pode dizer para os pés: "Não preciso de vocês. O fato é que as partes do corpo que parecem ser as mais fracas são as mais necessárias, e aquelas que achamos menos honrosas são as que tratamos com mais honra. E as partes que parecem ser feias recebem um cuidado especial. Biblia Sagrada.

...expressão facial...Surpresa. Eu sempre me surpreendo com as pessoas, com o mundo, com a tecnologia, com a natureza, com um recém nascido.

...desenho animado...Piu - Piu - Eu acho que ví um gatinho...

...um filme... O pagador de promessas - baseado na obra de Dias Gomes

...número... 25/12 - É natal...

estação... primavera ( Pois eis que já passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra; já chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra Ct 2.12).

...frase... “Oh Mestre, fazei de mim um instrumento de tua paz" ( Francisco de Assis)

http://meiolua.blogspot.com/2007_05_01_archive.html - a dona do blog sugeriu que copiasse as perguntas e as respondesse. Ela iria visitar o blog. Bem vinda meiolua! Gostou? Volte sempre!

crônica - Angústia


Oh, a angústia invencível que me prostra invade e me devora ...
(Poema de JG de Araujo Jorge, Cânticos – 1949)


Tinha uns três anos. Talvez quatro. Acordei numa cama de casal, achei-a muito grande; um feixe de luz do sol atravessava o vidro da janela e formava um prisma multicor em minha direção. Tentei apanhá-lo. Minhas mãozinhas atravessavam-no sem contudo apreendê-lo. Desisti da captura. Olhei ao redor não reconheci aquele ambiente, claro, amplo e silencioso, e estava sozinha. Senti uma inquietação dentro de mim, era como se tivesse acabado de surgir na terra, com um monte de perguntas que eu não sabia formular..

Minha mãe se aproximou sorrindo, sua presença não me acalmou, não dissipou minhas inquietações...Quem sou eu? Na verdade não fiz a pergunta, mas o sentimento de angústia que senti naquela manhã, nunca mais saiu de mim.

Guardei esse momento na minha mente, e as vezes tento reconstruí-lo e explica-lo. Por quê a impressão que não conhecia aquela casa, aquela quarto, e aquela cama? Será que estavámos hospedadas em casa de amigos, parentes, ou mesmo em um hotel? Será que eu realmente não conhecia aquele ambiente, e lá estava pela primeira vez?

E por quê aquele sentimento que era meu primeiro dia no planeta terra, e portanto, era a primeira vez que via aquela mulher que dizia: mamãe vai te dar um leitinho. Eu não tinha nenhuma lembrança anterior, uma página de papel em branco onde seria escrita minha história...

Alguém poderia questionar: por quê você não pergunta a sua mãe? Não posso.Ela morreu quando eu tinha seis anos.

Ah, a luz multicor do prisma ainda me encanta, e tal qual quando era criança atravesso minhas mãos e tento apreendê-la. Em vão.

A felicidade é como a luz colorida de um prisma, você pode vê-la, observar suas multiplas cores, admirar-se, gozar dela por breves momentos. Mas depois ela se vai... Igual a um feixe de luz você jamais poderá apreendê-la!

Roselee Salles

terça-feira, 25 de março de 2008

Questionnaire de Proust.

O Questionário de Proust - para você se conhecer melhor
Recebi por e-mail, de uma amiga, o questionario abaixo, resolvi investigar (na internet, é claro) e descobri o seguinte:

Lá por volta de 1886, o então muito jovem escritor estava na festa da prima, Antoinette, e foi convidado a preencher um questionário. Era uma modinha, como se diz, uma brincadeira, coisa dos refinados salões da Belle Époque, servia para criar assuntos e animar as festas. Proust respondeu ao mesmo questionário duas vezes na vida, uma quando era menino e outra, já um rapaz. As respostas do gênio da literatura francesa tornaram o modelo de questionário tão famoso que virou uma espécie de padrão até de entrevistas jornalísticas...Você pode responder as 29 perguntas de Proust assim sem pensar, como se fosse uma brincadeira, mas as respostas podem ser reveladoras e, até, surpreendentes se você experimentar fazê-las por escrito...

........................................................................
Aqui , eu respondo.

1. Qual é sua maior qualidade?

Obstinaçaõ. Sou forte e obstinada como um carvalho


2. E seu maior defeito?
Eu me importo com as opiniões dos outros.


3. A coisa mais importante em um homem?
Inteligencia e sensibilidade.


4. E em uma mulher?
Admiro aquelas que cultivam o espirito e o intelecto, haja vista que "enganosa é a graça e vã a formosura".


5. O que você mais aprecia nos seus amigos?
A fidelidade deles por mim.

6. Sua atividade favorita é...
Ler, dormir, comer. (nessa ordem).


7. Qual é sua idéia de felicidade?
Uma banheira de agua quente, um livro, lapis papel, musica ambiente, tudo isso no meu banheiro

8. E o que seria a maior das tragédias?
Perder um dos meus filhos. Quero morrer primeiro.

9. Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?
Talvez Cecilia Meireles, temos algo em comum: orfãs na infancia, sobrenome Carvalho, profissão professora.Quer dizer, seria eu mesma com o talento de escritora.


10.E onde gostaria de viver?
Passargada é um bom lugar..


11.Qual sua cor favorita?
Lilás, violeta, fucsia, azul. Impossivel escolher uma só


12.Sua flor?
As camélias do Leblon. Gosto muito de margaridas.


13.Um pássaro?
Fenix


14.Seus autores preferidos?
Machado de Assis, Visconde de Taunay, Raquel de Queiroz, Clarice Linspector.


15.E os poetas de que mais gosta?
Cecilia Meireles, Manuel Bandeira, José Hierro, Baudellaire, e..., Caetano Veloso.


16.Quem são seus heróis de ficção?
Don Quixote, Zorro


17.E as heroínas?
Mulher Maravilha, Luzia Homem


18.Seu compositor favorito é...
Chico Buarque, Fátima Leão.


19.E os artistas que você mais curte?
Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Abelardo da Hora


20.Quem são suas heroínas na vida real?
As escritoras, as cientistas, Ane Frank


21.E quem são seus heróis?
Brasileiros que conseguem sobreviver com um salário minimo e não perdem a alegria nem a esperança.


22.Qual é sua palavra favorita?
Isabelle


23.O que você mais detesta?
Mentiras.


24.Quais são os personagens históricos que você mais despreza?
Hitler, Poncio Pilatos, Bush, Idi Amim.


25.Quais os dons da Natureza que você gostaria de possuir?
Saber cantar, escrever.


26.Como você gostaria de morrer?
Sem expectadores, dormindo, preferencialmente.


27.Agora, já, como você está se sentindo?
Bem obrigada. Um pouco ansiosa. Ah, lembrei, ansiedade é o meu maior defeito.


28.Que defeito é mais fácil perdoar?
Burrice. Ninguém é burro porque quer...


29.Qual é o lema da sua vida?
"Enqunto há vida, há esperança"

segunda-feira, 24 de março de 2008

Poetrix - Efeito borboleta


Belle foi morar no Rio,

engordei dois quilos,

Meu escritório ficou vazio...

Andorinhas


Passam em bando
as bravas andorinhas -
É Primavera !
Roselee Salles

Haikai - Fores lilases


Jardim da praça -

Assomam vivazes

flores lilases.

Haikai - Kigo: Semente


Estação pluviosa
na terra humosa -
a semente acorda.

Poetrix - Algodão doce


Leve e rosa
Ah, se avida fosse...
Algodão doce!

Colibri


Colibri multicor
Beijando as flores -
Romance no ar

domingo, 23 de março de 2008

Andorinhas


As andorinhas
aos pares se alinham
nos beirais da igreja

Roselee Salles

Verão - Haikai


A terra lateja
a luz do sol flameja
chegou o verão
.


Estrelas cadentes
cintilam vivamente...
antes de cair!

Roselee Salles

Mandacarus - haikai verão


O Mandacaru
olha p'ro sol com desprezo -
apruma-se teso.

Roselee Salles


Roselee Salles

sexta-feira, 21 de março de 2008

Beijos da Vovó


Eu gosto de olhar a face
Desta bonita criança.
Porque afinal, ó Belle,
Cintilas como as estrelas,
Floresces como esperança.
Como deslumbro-me ao vê-la,
Dentro de mim se introjeta
A luz multicor dos prismas
E batem asas as cismas
Qual passarada irrequieta.






quarta-feira, 19 de março de 2008

TÉO, O ATEU




“Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Co 13:12).






Seu Téo não acreditava em Deus, e gostava de falar sobre isso. Como prova de sua convicção repetia invariavelmente: alguém já viu Deus, ouviu sua voz, tocou nele?


Alguns teistas replicavam que a lua, as estrelas, o mar,o sol, a chuva,os dias que se sucedem, o universo, o desabrochar de uma flor,são provas da existência de Deus.


Seu Téo contra argumentava, eu acredito na lua, nas estrelas, no mar, na chuva porque os vejo, ou toco, ou sinto seu cheiro...,e o universo nasceu de uma grande explosão, os dias se sucedem por causa do movimento da terra, o próprio homem é resultado da evolução das especies.Eu em outras eras fui macaco, um tal de Darwin explica isso muito bem...


Todas as manhãs ocorriam tais embates, no local de trabalho de seu Téo - uma sapataria, onde ele confeccionava alpargatas e botinas. Diga-se de passagem, que sua produtividade não era abalada pelos debates, de cabeça baixa enquanto cortava, costura suas peças, ou batia pregos, Seu Téo discorria mansamente. E que fique claro, Seu Téo era muito educado e inteligente, tinha estudado em colégio de padres. Na sua modesta casa tinha num canto da sala uma estante com livros amarelecidos pelo tempo, era neles que seu Téo buscava apoio para sua descrença.


Aquele local de trabalho e de debates era frequentado por três grandes amigos de seu Téo: um crente fervoroso, um espirita, e um terceiro que não sabemos, ou identificamos, seu credo, creio que era um cético, pois apenas ria-se com o canto dos labios, ora meneava a cabeça em sinal de aprovação ou de desaprovação.


Eventualmente apareciam clientes, ou interessados nos debates, ou ainda alguém que tinha curiosidade em conhecer um ateu, e ficavam impressionados com o tom respeitoso dos debates. Algumas ocasiões havia só perguntas, a parte adversa pedia respeitosamente para responder só dia seguinte. No dia seguinte, certamente haveria expectadores.


Seu Téo, se explicava: Nunca vi, não sei onde mora, nunca fomos apresentado, nesses meus sessenta anos de idade nunca ouvi falar de alguém que o hospedou, recebeu carta, telegrama, ou telefonema de Deus, enfim ninguém nunca o viu.


Os moradores do povoado tinham uma certa complacência com Seu Téo, seus pais faleceram quando ainda era criança, quando estudante interno fora muito reprimido pelos padres, não casara, nem tivera filhos...


Numa dessas manhãs pasmacentas, uns gritos aflitos quebraram a monotonia rotineira. Todos saíram do interior de suas residencias, ou das lojas e acorreram em direção aos gritos. Encontraram um pequeno grupo de homens; cachorro louco, diziam todos ao mesmo tempo, vamos atrás, cachorro louco...

Alguns homens apareceram com suas velhas espingardas, revolveres e até porretes e sairam em disparada na direção que supostamente o cachoro louco tomara. Seu Teo juntou-se ao grupo.

Olha lá, é cachorro, o cachorro louco...Alguém dispara um tiro e,...oh céus, a bala se alojou no pé de seu Téo.

Atônito, Seu Téo, choraminga: por quê comigo? Depois eleva a voz: Ai Deus, sempre fui bom filho, bom amigo, bom empregado um bom cidadão, por quê comigo?

Passadas as primeiras horas, já medicado, seus três inseparaveis amigos foram visitá-lo.

Então Téo, acreditas em Deus, pois hoje tu o chamaste em alto e bom som.

- Eu o Chamei?

- Sim, todos ouviram.

- Força de expressão...

- Quer dizer que, você é o mesmo velho ranzinza de sempre, e que nem mesmo o risco de morte o fez mudar de idéia a respeito de Deus.

- Eu só acredito naquilo que pode passar pelos meus sentidos, não vi, não ouvi, não toquei Deus.

- Vamos mudar de assunto disse o cético. Sentiste muita dor?

- Ah, é impossivel descrever a dor, a primeira impressão é que fui atingido por uma montanha de ferro, e depois o calor e o ardor é tamanho que parece quer atolei o pé numa lava incandescente de um vulcão.

- Pois eu acho, diz o crente, que não há dor nenhuma.

- O quê, estás a duvidar de minha palavra? Se digo que estou sentindo dor, é verdade.

- Vistes a dor, sua cor, seu tamanho?

- Claro que não.

- E como tens certeza que a dor existe?

- Eu posso senti-la.

Fez-se silêncio profundo na saleta.

Após alguns minutos de silêncio Seu Téo diz : entendi, muito convincente seu argumento, me curvo.

Os amigos de Seu Téo sempre tão comedidos não se contém de alegria, dão urras e vivas. Viva o cachorro louco! Viva a bala que atingiu o pé de Seu Téo! Viva a dor, que Seu Téo sente, e só ele sente! Viva Deus, que não vemos, mais o sentimos!

Alto lá, vamos parando, não exagerem... diz seu Téo.

- Mas o Senhor acabou confessando que crê. Se crê não é mais ateu ....

- E verdade, não sou mais ateu. Agora sou Agnóstico.

- Agui o quê?

- A- G-N-O-S-T-I-C-O!

Acrostico - ISABELLE


I nigualável é o meu encantamento: Belle é
S uave, como um lago transparente,
A s noites de um verão caliente;
B orboletas multicores
E, jardim com belas flores
L uar argenteo sobre os montes,
L á no ceu estrelas cintilantes,
E mais pura que diamantes
!

Roselee Salles


OS DEGRAUS - Poesia




Descia os degraus da minha existência
Do verdadeiro amor não tinha ciência
Nada mais queria, nada importava
Da solidão, e desamor era escrava.


Eu encontrei o amor num lance
No instante em que te vi de relance,
Mudei de direção; o meu escopo
É subir, subir, contigo chegar ao topo...


A jornada, eu sei, é maior indo sozinho
De mãos entrelaçadas no mesmo caminho
Estes degraus parecem de ouro
Quem tem amor tem um tesouro.


Nestes degraus belas rosas florescem,
Folhas murchas, agora reverdecem,
Que bela sinfonia de amor traz o vento!
Ele que nos impulsiona todo tempo .

Roselee Salles

As mutretas - paródia "As borboletas"


As mutretas



Cartões corporativos são

brancos,

amarelos,

azuis,

pretos,

que bela criação!



Cartão branco:

dinheiro vivo

no banco.



cartões azuis

se confundem com outros

se há pouca luz.


Cartão com brasão

compra-se material

de construção.


Cartão amarelo,

quanta fidúcia:

compra-se urso de pelúcia!



Os pretos então...

quanta corrupção
!

segunda-feira, 17 de março de 2008

Conto - Mistério resolvido


Ela se chamava Wyros, (leia-se Viros) e, ninguem questionou, ou pelo menos achou estranho que uma mulher fosse batizada com nome tão rídiculo. Ironicamente sua casa era a mais limpa da cidadezinha. Levantava-se às cinco da matinas, regava o pequeno jardim, lavava a calçada, e partia para a limpeza minunciosa do banheiro. Preparava o café dos filhos punha à mesa. Só então acordava a filharada para tomarem o desjejum e se preparem para irem a escola.
A aparencia de Wiros era impecavel: cabelos curtos "a la home", vestidos sóbrios, estilo tubinho e, sempre de meias eláticas, as mãos bem cuidadas, Wiros envolvia o cabo de vassoura numa flanela para que não lhe fizesse calos nas mãos. Era uma dama.
Vivia praticamente sem o marido, que morava na fazenda e cultivava um pequeno pedaço de chão, e tirava leite de umas poucas vacas e o levava diarimente para ser vendido na cidade, em sua propria casa.
Ainda na parte da manhã depois de tomar café, o marido trabalhador voltava para o sítio para a sua labuta de agricultor.
Seus filhos, seis ao todo, a tratavm respeitosamente. Suas filhas adolecentes de 17 e 16 anos namoravam os filhos das melhores familias local.
Familia modelo. Hum....
Diziam as más linguas que cada um dos filhos tinha pai distinto, mas, era mentira, a primogênita era com certeza fruto do sacrossanto casamento, os demais, sim, de pais, vamos dizer, alternativos.
Todos sabiam a paternidade de cada um dos rebentos; como ficavam sabendo não entendemos haja vista que Wyros era discreta, reservada...
Alguém a defendou afirmando ser maledicência - só porque os filhos são diferentes entre si não se pode afirmar que são filhos de pais diferentes.... Ademais ela não levaria amantes para dormir em sua casa, já tem filhas mocinhas....
- E verdade retrucou, a outra, mas você percebeu que as sete e meia, as crianças já foram pra escola, e o Delegado esta refestelado no sofá esperando o leite que só chega lá pelas nove, antigamente era o prefeito que aguardava a chegado do leite, o rábula, por um tempo, também já foi cliente....

 
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