quarta-feira, 19 de março de 2008

TÉO, O ATEU




“Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Co 13:12).






Seu Téo não acreditava em Deus, e gostava de falar sobre isso. Como prova de sua convicção repetia invariavelmente: alguém já viu Deus, ouviu sua voz, tocou nele?


Alguns teistas replicavam que a lua, as estrelas, o mar,o sol, a chuva,os dias que se sucedem, o universo, o desabrochar de uma flor,são provas da existência de Deus.


Seu Téo contra argumentava, eu acredito na lua, nas estrelas, no mar, na chuva porque os vejo, ou toco, ou sinto seu cheiro...,e o universo nasceu de uma grande explosão, os dias se sucedem por causa do movimento da terra, o próprio homem é resultado da evolução das especies.Eu em outras eras fui macaco, um tal de Darwin explica isso muito bem...


Todas as manhãs ocorriam tais embates, no local de trabalho de seu Téo - uma sapataria, onde ele confeccionava alpargatas e botinas. Diga-se de passagem, que sua produtividade não era abalada pelos debates, de cabeça baixa enquanto cortava, costura suas peças, ou batia pregos, Seu Téo discorria mansamente. E que fique claro, Seu Téo era muito educado e inteligente, tinha estudado em colégio de padres. Na sua modesta casa tinha num canto da sala uma estante com livros amarelecidos pelo tempo, era neles que seu Téo buscava apoio para sua descrença.


Aquele local de trabalho e de debates era frequentado por três grandes amigos de seu Téo: um crente fervoroso, um espirita, e um terceiro que não sabemos, ou identificamos, seu credo, creio que era um cético, pois apenas ria-se com o canto dos labios, ora meneava a cabeça em sinal de aprovação ou de desaprovação.


Eventualmente apareciam clientes, ou interessados nos debates, ou ainda alguém que tinha curiosidade em conhecer um ateu, e ficavam impressionados com o tom respeitoso dos debates. Algumas ocasiões havia só perguntas, a parte adversa pedia respeitosamente para responder só dia seguinte. No dia seguinte, certamente haveria expectadores.


Seu Téo, se explicava: Nunca vi, não sei onde mora, nunca fomos apresentado, nesses meus sessenta anos de idade nunca ouvi falar de alguém que o hospedou, recebeu carta, telegrama, ou telefonema de Deus, enfim ninguém nunca o viu.


Os moradores do povoado tinham uma certa complacência com Seu Téo, seus pais faleceram quando ainda era criança, quando estudante interno fora muito reprimido pelos padres, não casara, nem tivera filhos...


Numa dessas manhãs pasmacentas, uns gritos aflitos quebraram a monotonia rotineira. Todos saíram do interior de suas residencias, ou das lojas e acorreram em direção aos gritos. Encontraram um pequeno grupo de homens; cachorro louco, diziam todos ao mesmo tempo, vamos atrás, cachorro louco...

Alguns homens apareceram com suas velhas espingardas, revolveres e até porretes e sairam em disparada na direção que supostamente o cachoro louco tomara. Seu Teo juntou-se ao grupo.

Olha lá, é cachorro, o cachorro louco...Alguém dispara um tiro e,...oh céus, a bala se alojou no pé de seu Téo.

Atônito, Seu Téo, choraminga: por quê comigo? Depois eleva a voz: Ai Deus, sempre fui bom filho, bom amigo, bom empregado um bom cidadão, por quê comigo?

Passadas as primeiras horas, já medicado, seus três inseparaveis amigos foram visitá-lo.

Então Téo, acreditas em Deus, pois hoje tu o chamaste em alto e bom som.

- Eu o Chamei?

- Sim, todos ouviram.

- Força de expressão...

- Quer dizer que, você é o mesmo velho ranzinza de sempre, e que nem mesmo o risco de morte o fez mudar de idéia a respeito de Deus.

- Eu só acredito naquilo que pode passar pelos meus sentidos, não vi, não ouvi, não toquei Deus.

- Vamos mudar de assunto disse o cético. Sentiste muita dor?

- Ah, é impossivel descrever a dor, a primeira impressão é que fui atingido por uma montanha de ferro, e depois o calor e o ardor é tamanho que parece quer atolei o pé numa lava incandescente de um vulcão.

- Pois eu acho, diz o crente, que não há dor nenhuma.

- O quê, estás a duvidar de minha palavra? Se digo que estou sentindo dor, é verdade.

- Vistes a dor, sua cor, seu tamanho?

- Claro que não.

- E como tens certeza que a dor existe?

- Eu posso senti-la.

Fez-se silêncio profundo na saleta.

Após alguns minutos de silêncio Seu Téo diz : entendi, muito convincente seu argumento, me curvo.

Os amigos de Seu Téo sempre tão comedidos não se contém de alegria, dão urras e vivas. Viva o cachorro louco! Viva a bala que atingiu o pé de Seu Téo! Viva a dor, que Seu Téo sente, e só ele sente! Viva Deus, que não vemos, mais o sentimos!

Alto lá, vamos parando, não exagerem... diz seu Téo.

- Mas o Senhor acabou confessando que crê. Se crê não é mais ateu ....

- E verdade, não sou mais ateu. Agora sou Agnóstico.

- Agui o quê?

- A- G-N-O-S-T-I-C-O!

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