Por que faço eu
sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?
O meu destino
tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e sou:
não me iguala
Não me compreendo nem no que, compreeendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o
prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.
Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?
Além da minha alma,
que outra alma há na minha?
Por que me destes o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha
Senão com um
uso não meu dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus
atos?
Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou
entre quê e os fatos?
Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ó ilusões! Se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos eu goze esse nada,
sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como uma praia
esquecida...
"Fernando Pessoa
(1888-1935)
Mais sobre Fernando
Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
Nenhum comentário:
Postar um comentário