sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Eu sou a minha alma.


Quadro de David que representa a morte de Sócrates

“Às vésperas da execução de Sócrates, seus amigos finalmente conseguiram subornar o carcereiro. Críton, o mais impetuoso dos discípulos entrou na cadeia e disse ao mestre:
- Foge depressa, Sócrates!
- Fugir, por quê? - perguntou o preso.
- Ora, não sabe que amanhã vão matar você?
- Matar-me? A mim? Ninguém pode me matar!
- Sim, amanhã você terá de beber a taça de cicuta mortal - insistiu Críton. - Vamos, mestre, foge depressa para escapar da morte!
- Meu caro amigo Críton - respondeu o condenado - que mau filósofo você é! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...”
“Depois, puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou:
- Críton, você acha que isso aqui é Sócrates? - E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou: - Você acha que isso aqui é Sócrates?... Pois é isso que eles vão matar, este invólucro material; mas não a mim. Eu sou a minha alma. Ninguém pode matar Sócrates!...
E ficou sentado na cadeia aberta, enquanto Críton se retirava chorando, sem compreender aquilo que ele considerava teimosia ou um idealismo do mestre.”
Ainda indagado de suas últimas impressões, Sócrates revelou o que lhe ia à mente, coerente com tudo que pregara e com a sua íntima convicção na imortalidade da alma:
“Todo homem que chega onde vou agora, quão enorme esperança não terá de que possuirá ali o que buscamos nesta vida, com tanto trabalho! Este é o motivo pelo qual esta viagem que ordenam me traz tão doce esperança.”

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