sábado, 28 de junho de 2008

Autopsicografia - Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração


FERNANDO PESSOA 1- 04 - 1931

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