terça-feira, 10 de junho de 2008

Testamento - Manuel Bandeira



O que não tenho e desejo

É que melhor me enriquece.

Tive uns dinheiros — perdi-os…

Tive amores — esqueci-os.

Mas no maior desespero

Rezei: ganhei essa prece.


Vi terras da minha terra.

Por outras terras andei.

Mas o que ficou marcado

No meu olhar fatigado,

Foram terras que inventei.


Gosto muito de crianças:

Não tive um filho de meu.Um filho!…

Não foi de jeito…Mas trago dentro do peito

Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino

Para arquiteto meu pai.

Foi-se-me um dia a saúde…

Fiz-me arquiteto? Não pude!


Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.

Não faço porque não sei.

Mas num torpedo-suicida

Darei de bom grado a vida

Na luta em que não lutei!

Manuel Bandeira

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