sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Beijos Sensuais: 3

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Fora, repouse em paz
Dormida em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
-Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!

De arrebol a arrebol,
Vão-se os dias sem conta! e as noites, como os dias,
Sim como vão-se, cálidas ou frias!
Rutile o sol
Esplendido e abrasador!
No alto as estrelas coruscantes,
Tauxiando os largos céus, brilhem como diamante!
Brilhe aqui dentro o amor!

Suceda a treva a luz!
Vele a noite de crepe a curva do horizonte;
Em véus de opala a madrugada aponte
Nos céus azuis,
E Vênus, como uma flor,
Brilhe, a sorrir, do ocaso a porta,
Brilhe a porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?
Só nos importa o amor!

Raive o sol no Verão!
Venha o outono! do Inverno os frígidos vapores
Toldem o céu! das aves e das flores
Venha a estação!
Que nos importa o esplendor
Da primavera, e o firmamento
Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?
- Beijemo-nos amor!

Beijemo-nos! que o mar
Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!
E cante o sol! a ave desperte e cante!
Cante o luar,
Cheio de um novo fulgor!
Cante a amplidão! cante a floresta!
E a natureza toda, em delirante festa,
cante, cante este amor!

Rasgue-se, a noite, o véu
Das neblinas, e o vento inquira o monte e o vale:
"Quem canta assim?" E uma áurea estrela fale
Do alto do céu
Ao mar, presa de pavor:
" Que agitação estranha é aquela?
" E o mar adoce a voz, e a curiosa estrela
Responda que é o amor!

E a ave, ao sol da manhã,
Também, a asa vibrando, a estrela que palpita
Responda, ao vê-la desmaiada e aflita:
" Que beijo, irmã!
Pudesses ver com que ardor
Eles se beijam loucamente!
" E inveje-nos a estrela ... e apague o olhar dormente,
Morta, morta de amor! ...

Diz tua boca: " Vem! "
" Inda mais! ", diz a minha, a soluçar... Exclama
Todo o meu corpo que teu corpo chama:
" Morde também! "
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor...

Olavo Bilac


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