sábado, 25 de outubro de 2008

Agora e outras - dora ferreira da silva

Agora que no vagar dos pensamentos
chamo-te - pai - da estação da infância
como se pudesses voltar no rápido só para me embalar,
fecho os olhos dentro de tuas pálpebras.
És minha invenção de amor. Olhos melancólicos os teus.
Eu contigo em degredo.

Difícil tocar a face desse segredo cada vez mais longe
e partir e também ficar, embora encontrada a chave
(da porta mais secreta).
Se eu pudesse dizer: seja a paisagem de seda azul
e o último sol fortíssimo do ocaso
- eu liberta enfim de tuas pupilas.
Um rio passaria desenhado pela mão mais fina.
Passa uma(pluma apenas uma
no rio acordado.)



Perséfone

A Lua testemunhou teu rapto, quando
colhias violetas e anêmonas.
Para onde foste,arrancada à campina pelo sombrio Amante?
Nem tu sabias do tenebroso percurso sobre a Terra,
antes tão doce, nem da dança para sempre traçada
e nela teu passo aprisionado, coroada por Hades
com grinaldas de romãs pesadas.
Kóre Perséfone, rainhanão dos vivos e da campina em flor,
mas das sombras frias.




Hades

Da profunda cisterna da Noite
tuas pupilas perseguiam estrelas frias.
Sombras em torno de ti rondavam. Só lágrimas
e a antiga alegria, pena, a mais severa.
Tudo perdido fora do circulo dos deuses
jubilosos. Tua mãos pediam o fardo cálido,
pressentido na campina e a flor do único sorriso
que te movera além da treva. E ousaste!
Contra leis e deuses. Tocara-te Amor
e tremias sob a Lua sublevada. Flores
perfumaram teu reino. Embora tristonha em seu trono,
Perséfone era o bem que te faltava.

(do livro "Hídrias")


Nenhum comentário:

 
DESAPARECIDOS: Clique aqui e coloque no seu Blog!