Retrato
"Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo
eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas
eu não tinha este coração que nem se mostra
eu não dei por esta mudança tão simples, tão certa, tão fácil
em que espelho ficou perdida minha face?"
CECÍLIA MEIRELES
Mulher ao Espelho
publicado em MAR ABSOLUTO - 1945.
AUTORETRATO
Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
HOJE É DIA DE CECILIA
Marcadores:
Poesia - autor(a) brasileiro(a)
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Um comentário:
Querida Roselee,
Foi muito bom receber a sua participação na blogagem coletiva HOJE É DIA DE CECÍLIA !
Conseguimos reunir mais de 170 blogs e enfeitamos a blogosfera com os poemas e as crônicas de Cecília Meireles.
Obrigada por ter participado dessa festa .
Com carinho,
Leonor Cordeiro
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